Contaminação, injustiça ambiental e a Pandemia de COVID-19

O agravamento das injustiças no bairro de Santa Cruz (Rio de Janeiro)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.62516/terra_livre.2022.2943

Palavras-chave:

Contaminação ambiental, injustiça ambiental, siderurgia, Covid-19.

Resumo

Localizada no extremo-oeste do município do Rio de Janeiro, a siderúrgica Ternium Brasil (antiga TKCSA) vem sendo responsável pode diversas violações ambientais no bairro de Santa Cruz. Após o início do funcionamento do seu primeiro alto-forno, em 2010, os impactos ambientais foram notáveis. Dentre eles, destacam-se: 1) a contaminação crônica do ar e episódios agudos de poluição (“chuvas de prata”); 2) o impedimento da prática da pesca na Baía de Sepetiba, que impactou diretamente a principal fonte de renda dos pescadores artesanais. No presente trabalho, buscar-se-á elaborar um quadro sistemático dos processos de injustiça que conferem ao bairro de Santa Cruz ser caracterizado enquanto uma zona de sacrifício. Para isso, analisaremos a injustiça ambiental a partir dos dados de contaminação do ar, o processo de segregação residencial - com base em informações censitárias investigadas sobre o bairro – e os impactos da pandemia de COVID-19, entre outros exames que contribuem para verificar as condições de vulnerabilização da população local.

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Biografia do Autor

Vinicius Rezende Carvalho, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Bacharel em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é mestrando do Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGG) e licenciando em Geografia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Integrante do Núcleo de Pesquisas em Geografia Ambiental e Ecologia Política (GAEP), coordenado pelo Prof. Marcelo Lopes de Souza. Tem experiência na área de Ecotoxicologia, tendo sido integrante do Laboratório de Ecologia e Ecotoxicologia de Solos (LECOTOX), coordenado pelo professor Ricardo Gonçalves Cesar. Áreas de Interesse e atuação: Ecologia Política, Impactos Ambientais, Geografia Ambiental, Justiça Ambiental.

Thiago Roniere Rebouças Tavares, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Doutor em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGG/UFRJ). Possui graduação (2009) e mestrado (2011) em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atualmente é professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Dispõe de prática em instituições técnicas, assim como experiência no ensino superior público. No ensino teve contrato temporário de professor-tutor do Curso de Formação Continuada em Educação Ambiental promovido pelo Instituto UFC Virtual, no ano de 2012. Também foi professor substituto nos Departamentos de Geografia da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), no ano de 2013, e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de 2016 à 2018. Entre 2020 e 2022 foi novamente professor substituto na UFRJ. Possui experiência na área de Geografia Humana, com ênfase em Geografia Ambiental e Ecologia Política, atuando principalmente nos seguintes temas: Teoria, Epistemologia, Ensino, Ambiente, Território e (In)justiça ambiental. Atualmente é pesquisador vinculado ao Núcleo de Pesquisas em Geografia Ambiental e Ecologia Política (GAEP) e coordenador da Rede de Pesquisadores em Geografia (Socio)Ambiental.

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Publicado

2023-08-02

Como Citar

REZENDE CARVALHO, V.; RONIERE REBOUÇAS TAVARES, T. Contaminação, injustiça ambiental e a Pandemia de COVID-19: O agravamento das injustiças no bairro de Santa Cruz (Rio de Janeiro). Terra Livre, [S. l.], v. 2, n. 59, p. 211–245, 2023. DOI: 10.62516/terra_livre.2022.2943. Disponível em: https://publicacoes.agb.org.br/terralivre/article/view/2943. Acesso em: 21 dez. 2024.