A ESCOLA NÃO É UMA EMPRESA: REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE A GÊNESE DA PERDA DE ESPAÇO DA GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO
DOI:
https://doi.org/10.61636/bpg.v1i112.3299Palavras-chave:
Neoliberalismo; empresa, escola, Reforma do Ensino Médio; BNCC; Geografia.Resumo
No Brasil, o projeto neoliberal tem interferido nas instituições escolares, principalmente a partir da década de 1990, com ações que buscam adequá-las ao modus operandi dos princípios empresariais. Essa racionalidade passou a ser aplicada com mais vigor com a Reforma do Novo Ensino Médio, em 2017, e a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em 2018, que tem impactado na redução de disciplinas escolares no Ensino Médio, entre elas, a Geografia. Desse modo, o trabalho tem como objetivo discutir teoricamente a gênese da perda de espaço da Geografia no Ensino Médio com a reforma do Novo Ensino Médio e a implantação da BNCC. Para cumprir tal intenção, realizou-se uma pesquisa bibliográfica. Os resultados teóricos indicam que a gênese da perda de espaço da Geografia no Ensino Médio perpassa pelas implicações da globalização capitalista sob a ótica do direcionamento do neoliberalismo, que tem entrado na escola por meio de modelos de gestão empresarial. Tais modelos foram respaldados pela Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL, 2017), e a BNCC (BRASIL, 2018). Tais interferências têm como princípios formativos as pedagogias das competências, cuja finalidade é adaptar os sujeitos às dinâmicas socioespaciais. Já a Geografia é componente curricular que tem como contribuição possibilitar aos estudantes, por meio de seus conhecimentos, compreender e transformar a realidade. Portanto, a Geografia, por ser uma disciplina poderosa que diverge do projeto neoliberal, é reduzida no currículo da BNCC para ceder espaço para os princípios da escola-empresa.
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