Do cacto ao cosmos, do cosmos ao cacto
DOI:
https://doi.org/10.61636/bpg.v1i114.3222Palavras-chave:
cacto, cosmos, Burle Marx, jardimResumo
O cacto é uma planta da Caatinga, da região do semiárido nordestino e de outros ambientes quentes e secos, que protagonizou, no Recife de 1935, o Cactário da Madalena, jardim moderno do paisagista Roberto Burle Marx depois denominado Praça Euclides da Cunha. Cristalizando a alma da Caatinga na cidade, esse jardim de cactos plantou o pensamento global do paisagista, segundo princípios artísticos e ecológicos. Tal excepcionalidade provocou um debate político sobre identidade territorial e função social do jardim como objeto de educação e arte. Em 2020, quando a crise sanitária aliada à crise ambiental do planeta realimenta a discussão sobre o compromisso do homem com a Terra, a resiliência do Cactário se encarrega de ressignificar a paisagem urbana, expandindo o campo do conhecimento teórico da paisagem e do jardim que transborda os limites territoriais do sertão para a infinitude cósmica, e justifica a sua criação. O objetivo do artigo é pontuar a complexidade de um jardim de plantas da Caatinga do sertão nordestino como obra de arte que supera ameaças sociais e ambientais para firmar a relação do homem com a terra e com o cosmos. Reconhecida como jardim histórico e obra de arte ou percebida como um jardim ordinário, a Praça Euclides da Cunha consolida a força da paisagem do sertão que permanece viva, superando interposições ao estimular o elo entre o aqui e o agora, o local e o planetário, o cacto e o cosmos.
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