A “GEOGRAFIA FANTÁSTICA” E A POLÊMICA IDENTIDADE PAULISTA: A VOZ DO OESTE DE PLÍNIO SALGADO (1895-1975)
A VOZ DO OESTE DE PLÍNIO SALGADO (1895-1975)
DOI:
https://doi.org/10.61636/bpg.v1i109.2969Palavras-chave:
Discurso, Literatura, Paulista, Geografia, ReacionárioResumo
A relação entre a literatura e a ciência geográfica pode fornecer um valioso registro intelectual da complexidade da cultura paulista na década de 1930. Este estudo demonstra como o discurso geográfico contido no polêmico romance A Voz do Oeste (1934), de Plínio Salgado, cria um mecanismo simbólico legitimador de uma identidade brasileira a partir do referencial paulista de sociedade desenvolvida. Tomando emprestado a discussão bakhtiniana (BAKHTIN 2011;2014) sobre os enunciados socialmente construídos, bem como o papel do escritor na sociedade brasileira durante a primeira metade do século XX (CANDIDO, 2000), o presente artigo pretende demonstrar como um discurso reacionário e autoritário fez parte do debate cultural brasileiro e, numa escala mais detalhada, influenciou a discussão sobre as ideologias geográficas na década de 1930 (MORAES, 1990; 1991 ;2007). Ademais, a figura intelectual de Plínio Salgado ainda causa estranheza e curiosidade no meio acadêmico, uma vez que para o autor a suposta identidade brasileira deveria necessariamente passar pelo prisma da geografia de São Paulo. Isso por si cria uma hierarquização territorial cujo ordenamento simbólico segue um princípio moralizante; este princípio, por sua vez, é sustentado por um autoritarismo anacrônico, o qual deve ser regido pela característica fisiográfica do relevo e pela miscigenação das “raças”.
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