Os movimentos espaciais e de preços de moradias em Belo Horizonte entre 2009 e 2022

discutindo a hipótese de gentrificação

Autores

DOI:

https://doi.org/10.61636/bpg.v1i113.3620

Palavras-chave:

Belo Horizonte, gentrificação, mercado imobiliário, I de Moran local, SIG, Geoprocessamento

Resumo

Este trabalho tem como objetivo analisar os movimentos recentes dos preços de vendas de apartamentos em Belo Horizonte e investigar possíveis processos de gentrificação e suas características. Para isso, a pesquisa utilizou uma Análise Exploratória de Dados Espaciais (AEDE) e o método estatístico I de Moran Local, aplicados a dados de vendas de apartamentos na cidade, obtidos a partir dos registros de pagamento do ITBI. Os resultados revelaram uma forte segregação socioespacial na cidade, com pouca movimentação de moradias nos segmentos de mercado voltados para as classes mais abastadas, concentradas principalmente na região Centro-Sul e na Pampulha. Entretanto, observou-se um significativo espraiamento de segmentos voltados para a classe média, com ocupação dos últimos grandes vazios urbanos municipais. Destaca-se o caso do bairro Diamante, na regional Barreiro, que apresentou uma ocupação inédita por moradias direcionadas a esse segmento em um vazio urbano cercado majoritariamente por bairros de baixa renda e algumas favelas. Assim, os resultados da pesquisa apontam para movimentos semelhantes aos processos de reestruturação urbana e formação de “rent gaps” descritos por Neil Smith. Além disso, mostram que, com a intensificação de Belo Horizonte como centralidade metropolitana e o espraiamento da classe média pela cidade, o acesso à moradia pelas populações mais pobres, pela via formal, se torna cada vez mais difícil.

Biografia do Autor

Ícaro Neri Pereira de Souza, Universidade Federal de Minas Gerais

Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2023), na modalidade "Geografia Aplicada e Geotecnologias". Mestre em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais pela Universidade Federal de Minas Gerais (2017). Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2014). Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Urbana e Geoprocessamento. Seus principais temas de estudo são: cidade, mobilidade urbana, renda fundiária urbana, teoria da renda da terra, metrópole, urbanização, especulação imobiliária, mercado imobiliário, rede de cidades, produção do espaço urbano, desigualdades socioespaciais, produção capitalista do espaço, modelagem de sistemas ambientais e planejamento de transportes.

Ricardo Alexandrino Garcia, Universidade Federal de Minas Gerais

Professor associado do departamento de Geografia do Instituto de Geociências (IGC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) possui uma trajetória notável no campo acadêmico. Desde 2010, ele tem liderado com excelência o Laboratório de Estudos Territoriais (LESTE/IGC/UFMG), demonstrando seu compromisso com a pesquisa e o ensino de alta qualidade; desempenhou papéis de destaque ao longo de sua carreira, tais como coordenador do Programa de Pós-graduação em Geografia (UFMG), tanto no período entre 2015 e 2019, quanto atualmente. Estendeu sua influência ao programa de Pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais (UFMG), onde exerceu a função de subcoordenador em dois mandatos: de 2013 a 2015 e novamente de 2022 a 2023. Sua dedicação à área administrativa é evidenciada por seu papel como sub-chefe do departamento de Geografia no biênio 2014-2015 e como diretor do prestigioso Instituto Casa da Glória (Eschwege) de 2010 a 2013, todas essas posições vinculadas ao IGC/UFMG. Exerce considerável dedicação como editor chefe do periódico Cadernos do Leste (1679-5806), reforçando seu comprometimento com a disseminação do conhecimento científico. Com uma formação sólida que inclui pós-doutorado em Geografia (2009), mestrado (2000) e doutorado (2002) em Demografia pela UFMG, além de graduação em Psicologia (1995) pela USP, é um especialista versátil. Sua expertise abrange diversas áreas, como geografia regional, métodos de análise regional, desenvolvimento econômico, geografia aplicada, distribuição espacial das atividades econômicas, regionalização, teoria e métodos quantitativos, modelos estocásticos, multivariados e espaciais, modelagem de sistemas, geoprocessamento e modelos espacialmente explícitos, projeção populacional e distribuição espacial da população, movimentos populacionais e migração. É o líder do grupo de pesquisa em Geografia Aplicada (CNPq) e tem atuado na orientação e publicação de diversos trabalhos acadêmicos nas áreas da Geografia Econômica, Geografia da Saúde, Planejamento Urbano e Regional, Ciências Ambientais e Demografia. 

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Arquivos adicionais

Publicado

12-04-2025

Como Citar

Souza, Ícaro N. P. de, & Garcia, R. A. (2025). Os movimentos espaciais e de preços de moradias em Belo Horizonte entre 2009 e 2022: discutindo a hipótese de gentrificação. Boletim Paulista De Geografia, 1(113), 63–94. https://doi.org/10.61636/bpg.v1i113.3620

Edição

Seção

Artigos