A ficcionalização do espaço
uma hipótese sobre e a partir da mobilização do capital na agroindústria brasileira contemporânea
DOI:
https://doi.org/10.61636/bpg.v1i113.3677Palavras-chave:
Teoria da Geografia, História do Pensamento Geográfico, Crise, Capital Fictício, Territorialização do CapitalResumo
Tendo em conta a crise global do capitalismo que redefine as formas pelas quais a reprodução social se processa no contemporâneo, este texto se propõe a compreender a atualidade da categoria espaço – e da produção do espaço – no que concerne à territorialização do capital nas frentes de expansão da agroindústria no Brasil. Se esse processo hodiernamente é calcado em estratégias que visam a acumulação pela via da inflação de títulos de propriedade – lógica própria à reprodução do capital fictício –, argumentamos que tal ficcionalização implica em uma ficcionalização da produção do espaço. Nesse percurso, recorremos à História do Pensamento Geográfico com vistas a, por um lado, demonstrar a historicidade da produção do espaço em íntima associação com o processo de modernização capitalista e, por outro, demonstrar como certo fetichismo teórico tributário das raízes positivistas da ciência geográfica limita as possibilidades de compreensão das contradições (im)postas pelo capital. Movimento que nos fornecerá as bases para apreender como, se na fase ascendente da modernização ocorreu uma ultrapassagem da produção de mercadorias parcelares no espaço para uma produção do espaço enquanto tal, no atual momento histórico uma nova ultrapassagem pode estar em curso: a da produção do espaço para a ficcionalização deste, processo que pode ser compreendido de forma privilegiada a partir da territorialização do capital agroindustrial no Brasil.
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