Geografia social e ontologia:
do fato geográfico ao Espaço social
Palavras-chave:
Pensamento geográfico, Geografia existencial, Ontologia, SociedadeResumo
Ao passo de compreender a geografia social pela perspectiva ontológica, perscrutou-se, com mais ênfase, dois conceitos: o fato social e o Espaço social. O fato geográfico, enquanto acometimento social ao indivíduo, sustentado pelo lugar e originado pela paisagem, refere-se a uma espacialidade social do Espaço da sociedade, ou, no conluio, na socialidade espaciológica. Dessa forma, tem-se que, na relação social e na espacial, afigura-se na intersubjetividade (da linguagem) com a interobjetividade (das entidades), uma fundamentação ontológica da experiencialidade socioespacial fundamentando os fatos geográficos na suspensão Terra à sua ontologia: o Mundo. Enquanto base para se pensar a geograficidade social, estima-se refletir sobre a fundamentação existencial no conceito-percurso de habitação-trabalho, atribuindo-lhe entrelugares e extralugares em sua abertura. Isto é, na habitação (telúrica) e na terrena (cultivação e edificação), tem-se, consoante-evocativo, a abertura da experiência de trabalho (rumo à alimentação, abrigo e circulação), fomentando a ligação existencial. Evoca-se, no Espaço social, uma dinâmica entre o nomadismo – de fortes relações sociais – e de sedentarismo que, enfraquecidas, ressalta o caráter territorial enquanto fundamento desse Espaço social que engloba, tanto o homem social quanto o homem superior e o homem vil. Os lugares, pois, na situação capitalista, ressaltam o prático-inerte, os objetos, já que, não raro, conhecem-se mais lugares que humanos, sendo eles o sujeito. Assim, a fluidez do território clama pela viscosidade dos lugares. Tem-se, por fim, a geografia social perscrutada em sua epistemologia pela ontologia.
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