Expressões espaciais das relações raciais
algumas notas
DOI:
https://doi.org/10.54446/bcg.v12i1.2840Palavras-chave:
expressões espaciais das relações raciais, relações raciais, GeografiaResumo
Cresce a preocupação acerca das dimensões espaciais das relações raciais. No campo da geografia, ciência que busca analisar fenômenos sociais através de sua dimensão espacial, estudos vem rompendo um silêncio hegemônico por décadas. Pretendemos aqui contribuir nesta linha de reflexão sobre espacialidades das relações sociais (do racismo e do anti-racismo). Trabalhamos a partir de duas ideias-chave. Primeiro, de que há uma organização espacializada das relações raciais – enquanto princípio regulador de relações o dado racial é mobilizado ou não de acordo com contextos de interação social, que tem numa organização espacializada a chave de instauração ou não dos atos classificatórios. Assim, classificação racial e classificação de contextos (espacializados) de interação se mesclam definindo experiências onde aparecem “fronteiras invisíveis” (seleção racial à presença ou participação), sentimentos de pertencimento (ou, estranhamento, repulsa), espaços de valorização da negritude, entre outras marcações constituídas por formas de operação do critério racial como ordenador das relações. A segunda ideia chave é a de que as relações raciais grafam o espaço, instituindo “geo-grafias” temporárias (como territorialidades de grupos definidos por traços culturais associados a um pertencimento racial, como as “posses” de hip-hop), duradouras (como padrões de segregação racializada) ou quase perenes (como territórios quilombolas, ou toponímias vinculadas a heranças de relações raciais). Nossa hipótese, portanto, é a de que sendo o espaço um objeto (e, ao mesmo tempo, dimensão imanente) de disputas sociais, as relações raciais (marcadamente o racismo e a luta anti-racismo) se constituem no espaço, com o espaço e a partir do espaço, produzindo “geo-grafias”.
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